Pinceladas


A análise e restauração reconta a história por camadas. (Foto. ASPGCR)

O ano de 2024 foi muito importante para as atividades do Projeto de restauração, conservação preventiva e complementares da igreja da Armação da Piedade e bens integrados – etapa 01, no âmbito do Prêmio Elisabete Anderle de Cultura 2023, e entre as atividades promovidas pela ASPGCR – Ação Social Paroquial de Governador Celso Ramos, mais bem comentadas e compartilhadas pela comunidade gancheira, estão as oficinas temáticas, realizadas com alunos da Escola Maria Amália Cardoso – MAC, moradores e visitantes. Um dos temas conversados com a comunidade, durante as oficinas, está o inventário das peças sacras e sua conservação.

Vamos conhecer um pouco mais?

É muito comum, que as igrejas e os lugares considerados de importância social e histórica, monumentos e palácios que guardam ou guardaram, em certa ocasião, governos ou representações políticas, apresentem obras de arte, obras sacras, obras que representem, simbolizem a história e a fé de um lugar, de um povo, de uma comunidade. Com a Capela ou Igreja de Nossa Senhora da Piedade, na Armação da Piedade, as obras históricas e sacras ajudam a recontar costumes, narrativas e complementar o que a história oficial, a mais das vezes, é incapaz de trazer à tona.

Em abril de 2014, um trabalho de catalogação e inventário executado pelos profissionais, Laís Soares Pereira, Luiz Carlos Pereira e Juliane Hubner, e revisto, em abril de 2015, por Susana Cardos, Lilian Mendonça e Ana Cristina da Costa, para FCC – Fundação Catarinense de Cultura, mencionou e descreveu obras importantíssimas para o Estado de Santa Catarina.

Entre estas peças importantíssimas estão, a imagem de Nossa Senhora da Piedade, datada do século XVIII, um crucifixo de madeira, datado do século XIX e um arcaz de madeira, datado do século XVIII. A restauradora de peças sacras, Laís Soares Pereira e a arquiteta Lilian Mendonça, presentes em 2014 e 2015, hoje, atuam no projeto de restauração da capela de Nossa Senhora da Piedade.


Imagem consagrada à Nossa Senhora da Piedade, datada do século XVIII. (Foto. ASPGCR)

Chama a atenção, porém, o ex-voto suscepto, datado do ano de 1765, que narra o naufrágio de uma lancha baleeira, e que talvez seja o primeiro documento da história do Brasil Meridional que menciona, pela via da Arte, a presença de escravizados africanos na caça baleeira, contrariando, aliás, a voz oficial de uma história que negava a presença de escravizados africanos na caça baleeira.


Ex-voto suscepto reconta a história da presença africana e açoriana no litoral. (Foto. ASPGCR)

Ao término de 2024, o retrô da Piedade, nas pinceladas que a própria comunidade vais destacando, para, aliás, sobrevier o ano de 2025, na esperança do início das reformas e restaurações mais profundas, opera num duplo, entre a importância das peças sacras e históricas para recontar a história do povo catarinense, e uma atualidade que enxerga na fé na historicidade um lugar para si.